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Ser ou não ser empreendedor?

Costumo escrever textos para mim mesmo. É uma forma de registrar o que aprendi ou para reflexão em outro momento.

Resolvi compartilhar uns pensamentos sobre empreendedorismo, em especial dentro do Brasil, com base em algumas de minhas experiências pessoais. Não tenho a pretensão de encerrar tudo sobre o assunto, mesmo porque seria impossível em poucas linhas e sem mais estudo e experiências.

Primeiramente, vamos fazer uma rápida definição de empreender, segundo as palavras-chave mais utilizadas em seu contexto:  decidir, fazer, realizar e tentar. Então, empreender é decidir fazer algo, no sentido de trazer um plano abstrato a realidade, mediante tentativas que, por vezes incidirão em erros, provocados ou causados por agentes internos ou externos.

Pode se dizer que a palavra empreendedorismo está na moda faz alguns anos. Muita gente tem falado em liberdade de mercado, livre iniciativa, ou, em palavras mais simples, em ter seu próprio negócio. Começamos a viver a tal ideia do self made man.

Todos devem conhecer alguém que já falou em empreender, em ajudar a desenvolver a economia, gerar emprego, trazer algo que faça a diferença na vida e mostrar que se pode alcançar coisas interessantes que não estejam inseridas em outro tipo de sonho de pessoas comumente encontradas no convívio cotidiano: a de passar em um concurso público, não importando qual.

Talvez seja uma onda nova em decorrência de fatores como a crise econômica, que leva a redução de vagas de emprego, falta de condições de trabalho dignas, salários considerados insatisfatórios, ou mesmo questões pessoais como não ter patrão e, supostamente, deixar de obedecer ordens e fazer seus horários.

Quando se falta emprego e se torna difícil a recolocação, realmente, empreender acaba sendo uma saída menos demorada para se manter. A outra é prestar concursos públicos, ser aprovado em algum deles e esperar a posse, o que geralmente não é algo tão simples e imediato.

Só que empreender é algo trabalhoso, demorado e ingrato. Não basta estar desempregado, colocar a mão na massa e pronto, “sou empreendedor”. A primeira coisa a se fazer é gostar do que se propõe a oferecer e ainda ter ou desenvolver a competência necessária. Sem isso, desista.

Além disso é preciso saber planejar, investir, poupar, aguardar que o mercado o receba após dar os passos necessários (e isso varia conforme o segmento) vender uma boa imagem de si antes de vender seus produtos e serviços.

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É preciso ter um público alvo predominante ou se organizar de forma a setorizar conforme perfis de clientela. É preciso rever planos de vez em quando. É preciso ter em mente que os erros acontecerão, por mais que se tente evita-los.

Pode ser necessário dar passos, recuar para dar outros maiores ou mesmo não se perder. É preciso aprender coisas novas, sob pena de se tornar obsoleto e, consequentemente, imprestável. É preciso ter consciência de que empreender por vezes exige que você seja o primeiro a chegar e o último a sair. É ter hora para começar, e não ter para terminar. É ter a paciência para entender que a colheita pode demorar ou não ser feita quando prevista. É não esmorecer, apesar de todos os “poréns” acima.

Há, além de tudo isso, os riscos operacionais que devem ser levados em conta: riscos jurídicos, contábeis, logísticos, os ligados aos fatores de produção etc.

Diria que é preciso não ter a ideia de que ser empreendedor é necessariamente andar de carro do ano, ter uma bela casa com piscina, uma lancha e viagens a Europa com a frequência que se vai ao supermercado. Pode acontecer, mas será consequência de outros fatores, e não deve ser o principal objetivo.

Muitos se iludem com a ideia de ter seu próprio negócio pensando apenas no enriquecimento. Não raro se decepcionam e não conseguirão se sentir felizes trabalhando nem para si nem para outros.

Se todos os pretensos empreendedores puderem refletir sobre o que foi dito nos últimos três parágrafos, arriscaria dizer que não restariam muitos. E ainda há como afunilar mais.

Os passos anteriores, com alguma transpiração e disciplina podem ser conquistados. Mas entre esses haverá quem reclame de fatores como alta tributação, baixa qualidade da mobilidade urbana, falta de profissionais qualificados e motivados, a concorrência por vezes desleal, entre outros fatores considerados externos.

Quem quer ser empreendedor, além dos desafios acima, precisa aprender a remar contra a corrente. Seria fácil empreender sem tantos problemas do próprio mercado ou aqueles que são colocados pelo Estado, tanto por ação como por omissão. Seria melhor sem a famigerada burocracia brasileira, sem a alta carga tributária, a dificuldade de contratar e demitir ou se tivéssemos uma cultura mais bem desenvolvida em termos de motivação e qualificação de pessoal.

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Seria ótimo que tudo aqui funcionasse como nos Estados Unidos e países da Europa. Mas não é assim. Dizem que bons marinheiros são feitos em meio a tempestades. Aplica-se o mesmo raciocínio ao empreendedorismo, afinal, ser um “reclamão” que culpa fatores pelo insucesso geralmente é pretexto. Quando tudo está a favor, é fácil ser bom e ter sucesso. Basta seguir o fluxo.

Então, se você depende de um mar calmo ou diversas facilidades para ser um empreendedor, significa que você ainda não é um, ao menos não aquele que se busca e merece ser.

Não poderia aqui ser pretensioso ao ponto de apontar todas as soluções, a não ser dentro de meu campo de atuação e com a vivência prática de áreas correlatas. E ainda assim, não teria todas as respostas, porque empreender também implica em aprendizado diário.

Da mesma forma, não poderia definir quem deve ou não ser empreendedor. Mas é importante refletir sobre os questionamentos que aqui foram feitos. Partindo disto, haverá outros questionamentos internos e externos. E mesmo que decida tomar a via do empreendedorismo, eles não vão cessar.

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Thiago Araújo atua no Direito privado, mais precisamente nos ramos do Direito Imobiliário, Direito do Consumidor, Direito Empresarial e Direito Civil com o propósito de solucionar demandas de maneira satisfatória e justa, evitando ao máximo o desgaste psicológico e desperdício de recursos. Assim, buscamos soluções preventivas, sem deixar de atuar em litígios nas esferas judicial e administrativa, com o diferencial de promover o diálogo e entendimento sempre que possíveis.

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