Por que os EUA votaram em Trump?

Contrariando a corrente de comentários, artigos, jornais, celebridades e analistas políticos, Donald Trump foi eleito 45º presidente dos EUA. Mas por que Trump foi eleito?

A campanha política entre Trump e Hillary Clinton foi marcada por comentários ácidos de Trump contrapondo o aparente enorme apelo popular para favorecer Hillary.

Um dos maiores legados prometido por Trump foi construir um enorme muro separando os EUA do México. Hillary buscava pregar a união, ao contrário da separação pregada pelo adversário. E de fato ela uniu a internet e uma miríade de pessoas apoiando sua vitória.

Comentários preconceituosos, limitadores e machistas ditos Trump durante sua campanha causaram rebuliço e ojeriza em todo o mundo civilizado. Na internet e TV ecoaram citações como:

“Eu vou construir um grande, grande muro na fronteira do sul e vou fazer o México pagar por esse muro. Marquem minhas palavras.”

“Quando o México manda suas pessoas, eles não estão enviando os melhores. […] Eles estão enviando pessoas que tem um monte de problemas e eles trazem esses problemas para nós. Eles trazem drogas. Eles trazem o crime. Eles são estupradores… e alguns, eu suponho que sejam boas pessoas.”

“Todas as mulheres no ‘O Aprendiz’ flertaram comigo – conscientemente ou inconscientemente. Isso é normal.”

“O lado bom em mim é que sou muito rico.”

“Está congelante e nevando em Nova York. Nós precisamos do aquecimento global.”

“Eu tenho muitos amigos fabulosos que por acaso são gays, mas eu sou um conservador.”

Sendo assim, porque os estadunidenses elegeram esse candidato tão peculiar? E como ele pôde vencer quando existiu de fato uma campanha maciçamente opondo-se a Trump nos canais de mídia, celebridades da TV e cinema, sites de notícias apoiada até pelos “Vingadores“?

Hillary Clinton, a principal opositora a Trump e até então favorita nunca foi unanimidade. Um polêmico vazamento de e-mails revelou que Hillary negociou termos políticos por fora dos canais oficiais – imagina se fosse no Brasil – e seu discurso belicista a favor de uma forte campanha militar contra o Estado Islâmico e a Rússia afastou boa parte dos eleitores que não desejam mais guerra.

O trunfo de Trump

Ainda que nos soe misógino e retrógrado, Trump representa uma coletividade de vozes. Pessoas que não acreditam no sistema político. Obama não conseguiu vencer o sistema político e implementar todas as mudanças que ele gostaria. Agora as pessoas esperam que alguém totalmente fora da política mude o jogo. O slogan de Trump “Vamos fazer a América ser grande outra vez” é a voz que o cidadão médio queria dizer.

Vemos no Brasil um cenário semelhante onde as pessoas não aguentam mais ver velhas figuras decrépitas se agarrando ao poder de forma lodosa e hereditariamente repassando seus feudos. Em uma escala semelhante, Hillary Clinton representa a continuidade do status quo. Ela é esposa de um ex-presidente, já tem longa carreira política e faz parte do partido que está há oito anos no poder.

O voto em Trump funcionou como um grito por mudanças. Não à toa os Republicanos também levaram a maioria das cadeiras disputadas no Senado e na Câmara.

Os estadunidenses também são notórios pelo seu ufanismo que beira o absurdo e uma soberba em relação ao resto do mundo. Um exemplo é a utilização do arcaico sistema imperial de medidas contra o sistema métrico, adotado por quase o mundo todo. O orgulho dos EUA os impede de seguir o resto do mundo, ainda que seja o mais prático e inteligente. É preferível contar as medidas em quantidade de “dedões” e “pés” do que seguir o mundo em uma medida cientificamente aceita.

Esse protecionismo também é a fonte do preconceito contra as minorias dos imigrantes, as mulheres, os homossexuais, os negros e todos aqueles que destoam da “norma convencional”. Basta lembrar que faz pouco mais de 50 anos que a primeira garotinha negra, Ruby Bridges foi insultada e humilhada pelas ruas só porque decidiu enfrentar o preconceito e estudar em uma escola comum.

Essa contradição indica que é como se os EUA se rebelassem contra o status quo político para manter seu status quo social. Esse é o papel de Trump agora.

Contrapondo o fiasco do vazamento das mensagens de Hillary, Trump sempre foi sincero em dizer seus absurdos. Os números destas eleições demonstraram que os estadunidenses preferiram o “tolo sincero” do que a “inteligente astuta”. A carreira política de Hillary demonstrou que ela estava disposta a jogar o jogo do poder, onde a regra 1 diz: diga uma coisa e faça outra.

E Donald Trump rasgou esse livro de regras ao demonstrar que gostando ou não dele, ele é daquele jeito. Falando todas as asneiras, absurdos e preconceitos, ele carrega sua sinceridade para quem quiser ver e ouvir.

Qualquer semelhança com as figuras políticas patéticas despontantes no nosso país não é mera coincidência.

Essa falta de clareza e direção é muito vista nas empresas, por líderes que preferem dar voltas, fazer joguetes de poder para conduzir suas pessoas mais com ameaças do que com exemplos e processos maduros e claros de liderança. Nas empresa o funcionário não pode rejeitar essa liderança frágil e sorrateira a não ser que se demita.

Já nas urnas dos EUA, os estadunidenses deixaram claro que querem ver mudanças, nem que seja para preservar suas vidinhas dos jeito que eles sonham.

Sobre o governo Trump?

Resta a nós torcer para que ele não construa um muro ideológico e social tão alto quanto o nosso aqui do Brasil.