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Afonso, o pior funcionário do mundo

A empresa funcionava à todo vapor, o ritmo era acelerado. Todo mundo sabia o que fazer, menos o Afonso. Aquele que ficou conhecido como o pior funcionário do mundo.

Estávamos em um negócio como a empresa em que você trabalha, um ramo bem parecido. Talvez você até tenha conhecido o Afonso. Ele era um cara gentil e bom, como você e eu.

Afonso se limitava a fazer o trabalho, entregar as tarefas em dia e até tinha bom relacionamento com os colegas. Ele cumprimentava a todos no escritório e procurava se esticar para ajudar.

Dizem que se atrasou para a festa de aniversário dois anos seguidos, porque sempre caía no período de maior correria da empresa. Pior que era verdade, eu estive lá.

O rapaz tinha vontade e chegava sempre no horário, ao contrário dos colegas que sempre esbarravam com um obstáculo ou engarrafamento. O Afonso não, ele não era o primeiro a chegar, mas chegava sempre uns dez minutinhos antes do horário. Cruzávamos pelo corredor e ele ia lá tomar seu cafezinho pra despertar e desfazer o mau humor da manhã.

Já na manhã, ele disparava e-mails, controlava todas suas tarefas no sistema ERP e quando estava livre se oferecia para ajudar os colegas do departamento. Alguns até já contavam com essa ajuda do Afonso e faziam corpo mole. A Sandra, uma colega nossa para ajudar o Afonso, já até fazia e-mails semanais cobrando a ajuda de Afonso, dizendo o que precisava ser feito. Tudo para ajudar nosso colega tão querido.

Afonso, que gostava muito de números, fez um curso de finanças, por conta própria e vivia criando planilhas cheias de funções elaboradas. A diretoria adorou, e começou a pedir planilhas para ajudar na estratégia da empresa. Tomada de decisão, Análise de mercado, Simulação de cenários, Afonso fazia tudo. E com gosto de ajudar a empresa.

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Logo o Maurício, gerente do financeiro soube que as planilhas de Afonso faziam sucesso e ele decidiu dar uma chance ao Afonso, que agora ficaria algumas horas no setor financeiro para analisar alguns documentos e efetuar cálculos. Era bom que Afonso aprendia mais e ganhava experiência com os números de que tanto gostava.

Um dia, no almoço com o pessoal do marketing, Afonso comentou sobre uma campanha publicitária alemã que tinha tudo a ver com nossa empresa. Todos elogiaram a observação de Afonso e Kátia, a gerente de marketing perguntou se Afonso não queria buscar referências internacionais e ideias que pudessem aplicar na empresa. Afonso ficou contente em poder ajudar.

Afonso trabalhou como uma máquina e ajudou todo mundo nesses sete ou oito meses. Os departamentos funcionavam melhor, a empresa mais organizada e os gerentes até faziam happy hours todas as semanas com o tempo extra. Porém, o Afonso parou de ser produtivo.

Já não era tão organizado no sistema ERP, mal organizava o trabalho dos colegas. Começou a chegar sempre em cima da hora. Sandra uma vez reclamou ao gerente que Afonso atrapalhara seu trabalho atrasando suas tarefas. A diretoria ficou desapontada, pois Afonso não entregava mais as novas planilhas que eram tão vitais para o negócio. Maurício, do financeiro já até desistira de incluir Afonso no setor, já que ele não mostrava mais o empenho de antes.

Kátia, do marketing fez várias reclamações de Afonso, cobrando da diretoria que fosse tomada alguma providência. A equipe uma vez ficou toda parada por duas semanas, porque Afonso atrasou um relatório de referências da publicidade européia. Dizem que o prejuízo foi grande e no dia da bronca só se ouviam gritos do diretor, Afonso ouvia tudo cabisbaixo.

Tudo piorou em um domingo à tarde, quando o diretor ligou pro Afonso pedindo que ele chegasse duas horas antes na segunda-feira para que ele organizasse os slides de uma apresentação. Afonso se negou, inventando alguma desculpa. A partir daí ele não sabia, mas estava na marca do pênalti.

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A situação só piorou, pois agora ele demorava minutos pra responder no WhatsApp, os e-mails levavam quase uma hora para ter resposta, Afonso já não podia ajudar a empresa indo em alguns sábados e os setores reclamavam do Afonso.

Em uma terça-feira nublada, Afonso foi até a diretoria e pediu um aumento de salário. Alegou desmotivação. Foi a gota d’agua. Tentou defender seu ponto de vista, mas o diretor não só disse não, como decidiu demitir Afonso.

E naquela mesma tarde, Afonso deixou o prédio carregando uma caixinha de papelão com vários pertences. Não houve comoção, nem indignação. Os colegas foram de frios à indiferentes. Assim foi a despedida de Afonso. Aquele que em quatro anos de empresa, foi de prodígio e salvador à pior funcionário do mundo.

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Founder Lidero

Rafael Honorato é empreendedor, consultor de negócios e líder de comunidades. Fundador da Lidero, startup de desenvolvimento profissional e também criador do Arena Empreendedora e da Geração Empreende.

Produz conteúdo sobre competências humanas, desenvolvimento profissional e empreendedorismo consciente através de artigos em diversos portais, vídeos no youtube e podcasts, como o Geração Empreende Podcast.

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6 comentários em “Afonso, o pior funcionário do mundo”

  1. Jaqueline Miranda-MBA em Gestão de Pessoas- Canindé-CE

    Afonso é o tipo de colaborador que tem prazer em desenvolver sua função dentro da empresa, proativo, sempre gostou de ajudar os seus colegas de trabalho, mas o que aconteceu com ele é o que acontece com muito colaboradores.Faltou ao seus gestores usar uma das ferramentas que é muito importante dentro da organização “MOTIVAÇÃO” . Um colaborador que é motivado mesmo que não seja remunerado, mas tendo o reconhecimento pelo seu trabalho não perde o interesse e está sempre disposto a colaborar para o crescimento da empresa.

  2. Joyce Coelho Abreu-MBA em Gestão de Pessoas-Canindé

    O que aconteceu com Afonso é o que acontece com grandes bons colaboradores, “Falta de Motivação. Mesmo com a falha dos gestores, Afonso deveria ter solicitado uma reunião com os interessados para mostrar o seu comprometimento com a empresa e o quanto vinha contribuindo para sua organização, e cogitando uma possível promoção, ao invés, de se mostrar incompetente, desvalorizando o grande profissional que é.

  3. Rozana Nunes Moreira

    Adorei o texto! Infelizmente essa é a situação de muitos colaboradores, onde eles se empenham e dão o máximo de si para ajudar a empresa a ficar no topo e no final não serem reconhecidos por seus esforços. Afonso deixou de ajudar a todos e a se atrasar no trabalho por falta de uma motivação, ninguém se importou em saber o que estava acontecendo com ele, só se importaram a partir do momento em que ele deixou de ajudá-los. Então foi aí que começaram a reclamar dele e a falarem que ele estava atrapalhando e atrasando o trabalho de todos os setores, nem o diretor não quis ouvir seus argumentos após uma frustrante tentativa de lhe pedir aumento, tentativa essa que lhe gerou a temida demissão. Diretores, chefes, líderes, tem que saber ouvirem seus colaboradores, ver o que cada um tem para oferecer a empresa de melhor, não é só saber sugar e não reconhecer os seus merecimentos, não é só saber enxergar seus erros e sim ver todos os seus acertos, saber ponderar quando for preciso. O colaborador é impulsionado com motivação, com um simples obrigado(a) ou quando o seu esforço é meramente reconhecido.

    Rozana Nunes Moreira
    MBA em Gestão de Pessoas IDECC/UVA – Canindé/Ce

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